Na publicação deste mês vamos detalhar o dimensionamento das instalações hidráulica prediais em relação à perda de carga.
No
dimensionamento das instalações hidráulicas é importante conhecer
todos os aspectos físicos que podem afetar na utilização dos
pontos de consumo de água para evitar desconfortos aos usuários.
Por
exemplo, uma instalação em que ao acionar a válvula de descarga
corte ou diminua o fluxo de água para outro ponto de utilização,
que não deve acontecer.
A
norma regulamentadora para instalações hidráulica prediais é a
NBR5626/ABNT e ela indica que a vazão nos aparelhos sanitários
devem ser com vazão e pressão suficientes para que não cause
desconforto aos usuários.
NBR5626
SET 1998 – Instalação predial de água fria.
Item
5.1.2.1 As instalações prediais de água fria devem ser
projetadas de modo que, durante a vida útil do edifício que as
contém, atendam aos seguintes requisitos:
a)
preservara potabilidade da água;
b)
garantir o fornecimento de água de forma contínua, em quantidade e
com pressões e velocidades compatíveis com o perfeito funcionamento
dos aparelhos sanitários, peças de utilização e de mais
componentes;
e)
evitar níveis de ruído inadequados à ocupação do ambiente;...
Anexo
A.2 Cálculo da Perda de carga
A.2.1
Tubos
A
perda de carga ao longo de um tubo depende do seu comprimento e
diâmetro interno, da
rugosidade da sua superfície interna e da vazão. Para calcular o
valor da perda de carga nos tubos recomenda-se utilizar a equação
universal, obtendo-se os
valores das rugosidades junto ao fabricante dos tubos. Na falta dessa
informação, podem ser utilizadas as expressões de
Fair-Whipple-Hsiao indicadas a seguir...
A
NBR(norma regulamentadora brasileira)5626 indica que a velocidade
máxima da água na tubulação não deve superar 3 m/s, assim como a
pressão nos pontos de consumo não deve superar 40 mca(metros de
coluna de água).
Todas
as condições de vazão e pressão devem ser previstas no projeto
das instalações de acordo com as NBRs vigentes.
Vamos
entender a perda de carga. A perda
de carga é causada pelo atrito e esforço encontrado pelo fluído
dentro da tubulação para se deslocar e pode ser localizada ou
distribuída.
A
perda de carga localizada é aquela que acontece nas conexões,
válvulas e curvas das tubulações e a perda de carga distribuída é
a gerada pelo atrito em tubulação linear.
A
perda de carga localizada é determinada em testes de laboratório
para cada conexão e ou
válvula, então estes valores são indicados
pelos fabricantes e podem ser apresentados como um coeficiente que
aplicado à formula universal
de perda de cargas calculamos as perdas em metros. Ou
o fabricante já entrega os dados com a perda de carga máxima, com
relação a velocidade máxima que a água atingirá.
Para
determinar a perda de carga distribuída precisamos conhecer alguns
aspectos físicos para determinarmos este fator.
Regime
de escoamento.
A
água na tubulação se desloca em regime laminar ou turbulento.
Imagine que dentro da tubulação a água é um conjunto de lâminas
que se deslocam uma em contato com a outra e nas extremidades em contato com o tubo.
Ilustração 1:
Escoamento laminar.
Observe
na ilustração 1, imagine que cada sequencia de setas é uma lâmina
que está se deslocando ordenadamente da esquerda para a direita e
observe na extremidade direita do deslocamento que forma uma ponta
arredondada como se a lâmina mais ao centro do tubo se deslocasse
mais rápida que as demais. É exatamente isso que acontece no
escoamento laminar.
Ilustração 2:
Escoamento turbulento.
O
regime de escoamento pode ser estudado e visualizado através do
experimento de Reynolds. Nesse experimento é liberado um corante
dentro da tubulação com fluxo constante e verificando o
comportamento do filamento do corante podemos determinar se o
escoamento é laminar ou turbulento, veja o modelo na ilustração 3.
Ilustração 3:
Experimento de Reynolds.
Observando
a ilustração 3 é fácil entender a diferença entre os regimes de
escoamento.
Fórmula
Universal
Para
determinação de perda de carga distribuída será utilizada a
fórmula universal, conforme recomendação das normas NBR12215 e
NBR12218 da ABNT.
NBR12215(NB-591)
– DEZ 1991 – Projeto de adutora de água para abastecimento
público.
Item
5.4.6 O cálculo da perda de carga distribuída deve ser feito de
preferência pela fórmula universal.
NBR
12218 – JUL 1994 – Projeto de rede de distribuição de água
para abastecimento público.
Item
5.7.3 O cálculo da perda de carga distribuída deve ser feito
preferencialmente pela fórmula universal, considerando, também, o
efeito de envelhecimento do material das tubulações da rede.
A
perda de carga distribuída apresenta a seguinte expressão:
h
= f.L/D. V²/2g
Onde:
h
= perda de carga distribuída;
f
= fator da fórmula universal, adimensional;
L
= comprimento do trecho, em metros;
D
= diâmetro interno do tubo, em metros;
v
= velocidade média, em m/s(metros por segundo);
g
= aceleração da gravidade = 10 m/s².
O
fator “f” da fórmula universal pode ser determinado através de
três expressões diferentes para tubos lisos, rugosos ou transição
ou pelo diagrama de Moody, que representa estas expressões
graficamente utilizando o número de Reynolds, que faz relação
entre força de inercia e viscosidade do fluído, e a rugosidade
relativa do tubo, que é a viscosidade absoluta dividida pelo
diâmetro interno da tubulação.
Número
de Reynolds: Re = v.D/visc,
onde:
v = velocidade(m/s);
D
= Diâmetro interno da tubulação(m);
visc
= viscosidade cinemática, da água é igual 10-6.
Verifique
na fórmula universal que sempre que aumentamos a velocidade a perda
de carga vai aumentar, então é importante sabermos calcular este
fator.
Q
= v.A
Onde:
v = velocidade;
A
= área interna do tubo(π.d²/4);
Q
= Vazão.
Assim
a velocidade é obtida pelo produto da vazão com a área interna do
tubo, v = Q.A.
Vamos
exemplificar:
Para
determinar a perda de carga distribuída com os seguintes dados:
-
Material do tubo: aço soldado
-
e = 0,0001 m
-
D = 0,5 m
-
L = 100 m
-
Q = 0,2 m³/s
1)
Determinar a área de escoamento:
A
= π.d²/4
= π.(0,5)²/4
= 0,20m²
2)
Determinar a velocidade média:
v
= Q/A = 0,20/0,20 = 1,00m/s
3)
Determinar o número de Reynolds:
Re
= v.D/visc = 1,00.0,5/10-6 = 0,5.106 = 5,0.105
(500.000)
4)
determinar a rugosidade relativa:
e/D
= 0,0001/0,5 = 0,0002
5)
Diagrama de Moody:
Ilustração 4:
Diagrama de Moody
f = 0,0155
6)
Determinação da perda de carga distribuída (hf):
hf
= f.L/D.v²/2g = 0,0155.100/0,5.(1,00)²/2.10 = 0,155
mca
O
valor de perda de carga distribuída deve ser somado ao da perda de
carga localizada, que é a perda de carga nas conexões e válvulas,
para obter o valor total das perdas de cargas.
Observe
no diagrama de Moody(ilustração 4) que há uma divisão que indica
o regime de escoamento, onde o número de Reynolds até 2000 indica
que o regime é laminar e utilizamos o fator de atrito na fórmula
universal como 64/Re.
Com
o número de reynolds entre 2000 e 3000 o regime é de transição e
acima de 3000 teremos regime turbulento.
Este
é um modelo de como calcular as perdas de carga para o
dimensionamento de instalações. Lembrando que o projeto e
dimensionamento deve ser executado por profissional habilitado, assim
com indica a NBR5626:
Item
5.1.1.1 O projeto das
instalações prediais de água fria deve ser feito por projetista
com formação profissional de nível superior, legalmente habilitado
e qualificado.
Por
Flávio Soares
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